Sobre a vida

Outro dia estávamos indo para o aeroporto do Rio de Janeiro, quando nos deparamos com o trânsito interrompido no caminho. Ao olhar, testemunhamos o falecimento de um motociclista. Fiquei pensando que essa pessoa, muito provavelmente, não saiu de casa hoje pensando que este seria seu último dia de vida. Que difícil.

Fiquei alguns dias refletindo sobre isso. Há poucos dias, tivemos enchentes no Sul do país. Morei em Porto Alegre durante minha formação em Psiquiatria e ver a cidade devastada, junto com mais de 300 cidades do estado, foi desolador. Novamente, pensei sobre a impermanência das coisas. Um dia estamos bem, no outro perdemos tudo, descobrimos uma doença grave, nos acidentamos, entre outras coisas. Dessas vicissitudes da vida, não temos controle. E precisamos aprender a viver o presente. Pode parecer clichê, mas é a realidade.

O que você faria se soubesse que hoje seria seu último dia de vida? O que você levaria consigo caso perdesse tudo?

Por aqui, levaríamos as pessoas que amamos, nossos gatos e documentos; o restante podemos recuperar.

E você, leitor?

Um abraço forte, Dra. Flávia Freitas Psiquiatra

Exercicios físicos & Saúde mental x Rede social

Outro dia, a academia postou uma foto minha fazendo exercícios. Eu repostei e não olhei o Instagram no restante da tarde. Quando abri tinha treze comentários, alguns do tipo “projeto noiva”, alguns parabenizando, outros reagindo positivamente. Fiquei me questionando sobre isso. Nunca foi “mulher padrão”, mas nunca deixei de fazer exercício, seja academia que a pouco tive de retornar para fortalecimento também daquele tornozelo, lembram-se? Sempre fiz algo, seja, natação, yoga, pilates, musculação, vôlei, tennis, Beach. Nunca fiquei parada. As reações das pessoas talvez sejam pelo fato de que em sua totalidade, muito raramente, postei sobre. Mas em si exercícios sempre fizeram parte de minha rotina.

Se eu não postar, quer dizer que não faço? Se postar quer dizer que incentivo algumas pessoas, como também ouvi?

Faça o exercício por você, para os benefícios de agora, para melhora de sua saúde mental. Para os benefícios do futuro, de envelhecer bem e saudável.

Sabe-se que para a saúde mental, em estudo recente brasileiro, identificou-se que 75 min/semana de exercícios já podem ter impacto positivo em escalas de depressão e ansiedade e identificaram que o exercício que fará você continuar será o que você tem alguma memória afetiva. Já pensou sobre isso?

Fica aqui meu questionamento. Qual exercício te traz memória afetiva? Vamos começar hoje? Comece e me conte depois como foi. E não se apegue às redes sociais 🙂

Um abraço forte
Drª Flávia Freitas

“É preciso sair da ilha para ver a ilha…”

“É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.“
José Saramago

Em 1882 , Machado de Assis publica o conto “O Alienista” , em que Simão Bacamarte , o alienista , fala de sua iniciativa : “ A loucura , objeto de meus estudos , era até agora uma ilha perdida no oceano da razão ; começo a suspeitar que é um continente.”

Quase 150 anos depois deste sucesso editorial , temos que concordar com o escritor pois observa-se ainda uma prevalência global de transtornos mentais ao longo da vida na faixa de 29% , trazendo como consequência altas taxas de desemprego de pessoas mentalmente afetadas acarretando um problema, importante e urgente , de desigualdade de saúde pública.

Mesmo sabendo que no Brasil estamos , infelizmente , na 3a posição no ranking mundial de doenças mentais , com 11,5 milhões de pessoas com depressão , 19 milhões de pessoas com ansiedade , além da estarrecedora taxa de 30% no aumento de suicídio entre os jovens , ainda enfrentamos o preconceito contra os portadores de doenças mentais , termo mais conhecido como “psicofobia”.

Em nossos atendimentos no consultório tentamos sempre conscientizar os pacientes sobre a necessidade de pensarmos a psiquiatria mais sob caráter preventivo do que , claro , paliativo ou emergencialmente , muito embora existam casos circunscritos para tais demandas.

Qual seria o nosso papel, enquanto sociedade, para combatermos este preconceito e eliminarmos de vez este estigma? Se o pâncreas, a tireóide e demais sistemas orgânicos adoecem por que torna-se tão difícil aceitarmos que nossa mente pode também adoecer? Seria apenas pelo motivo de não conseguirmos “medir” o sofrimento psíquico como se a nossa capacidade de abstração não nos mostrasse que ele de fato existe?

E você , nos conte , como tem cuidado da sua e da nossa saúde mental?

Abraços,
Dr. Daniel Monnerat

Quando a vida nos faz parar

Como alguns sabem em 29/11, 6:50h da manhã, tive uma fratura de tornozelo, escorreguei e virei o pé direito e com isso fraturei a fíbula, um osso pequeno que fica na região do tornozelo.

Voltei para casa, atendi on-line e fui para o hospital e segundo meu irmão ortopedista, meu tornozelo estava muito inchado e deveria fazer radiografia. Dito e feito, a plantonista diz: “Você precisará de cirurgia, já conversei com o ortopedista, ele virá ao hospital a partir de 14h”. Entrei em um modo que alguns de vocês dizem e comecei a chorar como criança. Eu tinha que tomar uma decisão: operar aqui ou em SP. Eu estava sozinha e somente eu poderia decidir. Alguns minutos depois, uma pessoa na sala de espera me acalma. Eu tento me acalmar. Eu, Psiquiatra, assim?

Sim, também somos pessoas que sofremos, ficamos em dúvida, nos estressamos. A vida me fez parar por 60 dias, sem estar no consultório, dependendo de outras pessoas para ajudar, além de Daniel, meu principal suporte nesse tempo.

Quando a vida te faz parar o que você faz?

Eu tentei trabalhar um pouco, refleti, tive de pedir ajuda, fiquei um muita saudade de tomar banho em pé (muito feliz quando consegui), tomamos a decisão de nos casar, fiz fisioterapia, exercícios, peguei mais um gatinho, e agora mudança.

Agora já voltei ao presencial. Até que fiz muita coisa nesse período. Mas voltei não querendo correr tanto. Tentando me organizar e ser uma pessoa melhor.

E você? Se acontece algo inesperado contigo, como você lida?

Desesperar-se, ficar chateado, reencontrar-se, conseguir dar um significado para o momento?

Se eu pudesse te dar uma dica, leitor: aquele velho clichê mas que é real, tente viver um dia de cada vez. Pois nessas situações cada dia é de fato um novo dia e pequenas coisas como tomar um banho em pé podem fazer muita diferença.

Obrigada por entenderem esse período, pacientes, família, amigos. Recebi muito carinho de vocês.

 

Um abraço forte,

Drª Flávia Freitas

Preciso ir ao psiquiatra. E agora?

O mundo mudou, principalmente pós pandemia do COVID – 19, e com ele nós também mudamos! Será que de dentro para fora ou de fora para dentro? Pouco importa já que os nossos comportamentos, atos e ações escancaram abruptamente uma triste realidade há muito tempo recalcada: nós adoecemos!

Porém, se a Psiquiatria lida com o subjetivo, como quantificar o nosso sofrimento a não ser pela percepção de que não vivemos mais uma vida tão prazerosa e com senso de propósito como antes vivíamos?

Passamos a nos comunicar mais em uma tentativa de romper o isolamento social, nos conectando ao mundo digital ao mesmo tempo que tornamos “íntimos” amigos virtuais que nunca conheceremos pessoalmente, paradoxalmente, sentamos à mesa com conhecidos de longa data sem dizer ao menos uma palavra deixando que o WhatsApp se comunique por e para nós.

Nunca houve tamanha procura pelos serviços especializados em saúde mental, sejam eles de psiquiatria, psicologia e afins. E nossos esforços, enquanto profissionais, tem sido tratar como também combater a psicofobia que se caracteriza pelo preconceito aos portadores de doença mental.

Isso cria um estigma de difícil ruptura isolando mais ainda aqueles que sofrem. Logo, se nem toda tristeza é depressão e nem toda ansiedade precisa ser medicada, uma coisa podem estar certos: ir preventivamente ao psiquiatra e não só apenas quando a dor se torna mais aguda, além de um ato de amor próprio significa também ter a coragem para se conhecer em profundidade reconciliando consigo próprio.

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